O ouro é um ativo amplamente comercializado e consumido em todo o mundo, com uma grande variedade de partes interessadas, incluindo o mercado financeiro, joalherias, engenharia biomédica e indústria eletrônica, entre outros. Além disso, o ouro tem um papel crítico na transição energética para tecnologias limpas programada para este século. Cada vez mais, nota-se uma tendência global de privilegiar a cadeia de valor de ouro produzido de forma responsável em todas as suas aplicações atuais e futuras.
O desafio da rastreabilidade da produção de ouro e da aplicabilidade de ferramentas de blockchain é um tema de várias iniciativas de pesquisa científica e tecnológica por diversos centros internacionais de pesquisa e inovação, conforme discutido por BALZAROVA et al. (2022) e FINLAY (2020). Associado a esse desafio, os critérios de comercialização de ouro com o padrão Fair Trade estão sendo amplamente discutidos pelo setor, conforme reportado por HILSON et al. (2018). As iniciativas de inovação tecnológica para fazer frente a esses desafios incluem também o mapeamento da assinatura específica do ouro conforme sua origem geográfica, como por exemplo os projetos de mapeamento do “DNA” do ouro (METALOR, 2023).
No entanto, um elemento essencial para que as cadeias de blockchain possam rastrear a produção de ouro responsável é o registro da origem da produção. Trata-se do primeiro elo da cadeia de valor, onde o ouro produzido como substância mineral é comercializado para tornar-se ativo financeiro. Essa transação marca o início da cadeia de valor que necessita da validação da originação do ouro produzido de forma responsável.
Para enfrentar o desafio de validar a originação do ouro responsável em sua primeira transação comercial na cadeia de valor, foi estabelecido um projeto de inovação para o desenvolvimento de uma plataforma de comercialização de ouro responsável (PCRO). Esse consórcio tem a participação da Universidade de São Paulo, por meio do Núcleo de Pesquisa para a Pequena Mineração Responsável (NAP.Mineração/USP) e da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE), além de empresas de mineração e de entidades do terceiro setor que também apoiaram o projeto. O resultado desse esforço foi o desenvolvimento de uma ferramenta inovadora que tem como objetivo dar poder de decisão de compra responsável ao interessado e orientar o produtor de ouro no sentido da produção responsável. A plataforma PCRO é hospedada na nuvem com infraestrutura dedicada e permite o acesso por meio de navegadores comerciais dentro dos atuais padrões do mercado.
Para o comprador de ouro, a plataforma proporciona, por meio de uma análise automática de aptidão aos critérios mínimos do PCRO, a verificação eficaz do risco de não conformidade do ouro que pretende adquirir. Além disso, a ferramenta oferece também a alternativa de solicitar aos técnicos da plataforma análises mais completas para os demais níveis de conformidade. Já para o produtor de ouro, a plataforma permite a definição clara de um caminho a ser seguido para uma extração mineral responsável. A ferramenta colabora com o produtor, evidenciando operações responsáveis de extração ou mesmo permitindo uma análise e direcionamento técnico para aumentar seu potencial de conformidade com o PCRO. Por outro lado, o técnico que opera a plataforma tem uma definição clara e objetiva de dados relevantes para análise de risco de não conformidade da produção de ouro, centralizando o acesso instantâneo a todos os dados essenciais de análise numa única plataforma, incluindo informações dos processos ANM, imagens de satélite, tributação, licenciamento e informações geográficas, todas em um só lugar.